sábado, 26 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
Levante faz esculacho do torturador da Dilma | Conversa Afiada
Levante faz esculacho do torturador da Dilma | Conversa Afiada
"É a volta do cipó no lombo de quem mandou dar"...
"É a volta do cipó no lombo de quem mandou dar"...
domingo, 13 de maio de 2012
Lamento dos Afrodescendentes: treze de Maio
Lamento dos Afrodescendentes:
treze de Maio
Leonardo Boff
12/05/2012
Hoje, 13 de maio, é o dia das mães.
Mas não esqueçamos a mães negras, especialmente as “amas-de-leite”, as mucamas.
Quantas crianças brancas não foram por elas amamentadas e salvas?
Agora, finalmente a Justiça fez
justiça aos afrodescendentes, pagando uma dívida histórica que pesava em nossa
consciência branca coletiva. Foram-lhes concedidas as cotas de acesso às
universidades federais. Mas a nossa dívida começou apenas a ser paga. Há tantas
reparações e compensações ainda por fazer.
Enquanto isso a Paixão de
Cristo continua pelos tempos afora no corpo destes crucificados. Jesus
agonizará até o fim do mundo, enquanto houver um único destes seus irmãos e
irmãs que estejam ainda pendendo de alguma cruz.
Assim pensa também o budismo
tibetano. O bodhisattwa (o iluminado) pára no umbral do
Nirvana e suplica retornar ao mundo da dor – samsara – para
viver solidariamente com quem sofre no reino humano, animal e vegetal.
Nesta mesma convicção, a Igreja Católica, na liturgia da Sexta-feira Santa,
coloca na boca do Cristo estas palavras pungentes:
”Que te fiz, meu povo eleito? Dize em
que te contristei! Que mais podia ter feito, em que foi que te faltei? Eu te
fiz sair do Egito e com maná de alimentei. Preparei-te bela terra, e tu, a cruz
para o teu rei”.
Rememorando a abolição da escravatura
a 13 de maio, nos damos conta de que ela não foi completada ainda. A paixão de
Cristo continua na paixão do povo afrodescendente. Falta a segunda abolição, da
miséria e da fome, como postula o senador Cristovam Buarque. Ouvem-se ainda os
ecos dos lamentos de cativeiro e de libertação, vindos das senzalas, hoje das
favelas ao redor de nossas cidades:
“Meu irmão branco, minha irmã
branca, meu povo: que te fiz eu e em que te contristei? Responde-me!”
Eu te inspirei a música carregada de
banzo e o ritmo contagiante. Eu te ensinei como usar o bumbo, a cuíca e o
atabaque. Fui eu que te dei o rock e a ginga do samba. E tu tomaste do que era
meu, fizeste nome e renome, acumulaste dinheiro com tuas composições e nada me
devolveste.
Eu desci os morros, te mostrei um
mundo de sonhos, de uma fraternidade sem barreiras. Eu criei mil fantasias
multicores e te preparei a maior festa do mundo: dancei o carnaval para ti. E
tu te alegraste e me aplaudiste de pé. Mas logo, logo, me esqueceste, reenviando-me
ao morro, à favela, à realidade nua e crua do desemprego, da fome e da
opressão.
Meu irmão branco, minha irmã branca,
meu povo: que te fiz eu e em que te contristei? Responde-me!
Eu te dei em herança o prato do
dia-a-dia, o feijão e o arroz. Dos restos que recebia, fiz a feijoada, o
vatapá, o efó e o acarajé: a cozinha típica da Bahia. E tu me deixas passar
fome. E permites que minhas crianças morram famintas ou que seus cérebros sejam
irremediavelmente afetados, infantilizando-as para sempre.
Eu fui arrancado violentamente de
minha pátria africana. Conheci o navio-fantasma dos negreiros. Fui feito coisa,
“peça”, escravo. Fui a mãe-preta para teus filhos e filhas. Cultivei os campos,
plantei o fumo para o cigarro e a cana para o açúcar. Fiz todos os trabalhos. E
tu me chamas de preguiçoso e me prendes por vadiagem. Por causa da cor da minha
pele me discriminas e me tratas ainda como se continuasse escravo.
Meu irmão branco, minha irmã branca,
meu povo: que te fiz eu e em que te contristei? Responde-me!
Eu soube resistir, consegui fugir e
fundar quilombos: sociedades fraternais, sem escravos, de gente pobre mas
livre, negros, mestiços e brancos. Eu transmiti, apesar do açoite em minhas
costas, a cordialidade e a doçura à alma brasileira. E tu me caçaste como
bicho, arrasaste meus quilombos e ainda hoje impedes que a abolição da miséria
que escraviza, continue como realidade cotidiana e efetiva.
Eu te mostrei o que significa ser
templo vivo de Deus. E, por isso, como sentir Deus no corpo cheio de axé e celebrá-lo
no ritmo, na dança e nas comidas sagradas. E tu reprimiste minhas religiões
chamando-as de ritos afro-brasileiros ou de simples folclore. Não raro, fizeste
da macumba caso de polícia.
Meu irmão branco, minha irmã branca,
meu povo: que te fiz eu e em que te contristei? Responde-me!
Quando com muito esforço e sacrifício
consegui ascender um pouco na vida, ganhando um salário suado, comprando minha
casinha, educando meus filhos e filhas, cantando o meu samba, torcendo pelo meu
time de estimação e podendo tomar no fim de semana uma cervejinha com os
amigos, tu dizes que sou um negro de alma branca, diminuindo assim o valor de
nossa alma de negros, dignos e trabalhadores. E nos concursos em igual condição
quase sempre tu me preteres em favor de um branco. Porque sou negro.
E quando se pensaram políticas
públicas para reparar a perversidade histórica, permitindo-me o que sempre me
negaste, estudar e me formar nas universidades e assim melhorar minha vida e de
minha família, a maioria dos teus grita: é contra a constituição, é uma
discriminação, é uma injustiça social. Mas finalmente a Justiça agora nos fez
justiça e nos abriu as portas das universidades federais.
Meu irmão branco, minha irmã branca,
meu povo: Que te fiz eu e em que te contristei? Responde-me!”
“Responde-me, por favor”.
E nós brancos, os que dispomos do
ter, do saber e do poder, geralmente calamos, envergonhados e cabisbaixos. É
hora de escutar o lamento destes nossos irmãos e irmãs afrodescendentes, somar
forças com eles e construir juntos uma sociedade inclusiva, pluralista,
mestiça, fraterna, cordial onde nunca mais haverá, como ainda continua havendo
no campo, pessoas que se atrevem a escravizar outras pessoas.
Oxalá possamos gritar: “escravidão
nunca mais”. E enxugando as lágrimas podemos dizer como no Apocalipse: “Tudo
isso passou”.
MEMORIAS DE UMA GUERRA SUJA
MEMORIAS DE UMA GUERRA SUJA
Formato: Livro
Autor: MEDEIROS,
ROGERIO
Autor: NETTO, MARCELO
Colaborador: GUERRA, CLAUDIO
Editora: TOPBOOKS
Assunto: HISTÓRIA DO
BRASIL
R$ 43,90
Livraria Cultura
Esta obra busca revelar o destino de mais
de uma dezena de desaparecidos políticos, procura explicar como vários líderes
de esquerda foram assassinados e traz novos elementos para elucidar fatos
ocorridos num momento conturbado da história brasileira - a ditadura militar.
Episódios como atentado ao Riocentro, uma ação terrorista num país africano com
o apoio clandestino do governo militar brasileiro, o acidente de Zuzu Angel, os
ataques à bomba em diversas redações de jornais do país e as mortes do delegado
Fleury e do jornalista Baumgarten ganham novas versões na voz de um ex-delegado
do DOPS - Cláudio Guerra. Ele se arrependeu de seus atos e contou tudo o que
viu, num relato considerado chocante. 'Memórias
de uma guerra suja' tem como objetivo revelar os bastidores de uma parte do
trabalho de destruição da esquerda brasileira durante os anos 70 e início dos
80.
Acabei de ler este livro e ele é realmente
um testemunho da Guerra Suja desenvolvida pelas forças repressivas da Ditadura
Civil Militar que dominou o país por 20 anos a partir de 1964. Na medida, em
que participei ativamente do movimento de resistência ao regime, conheci muitas
de suas características violentas e repressivas. No entanto, o testemunho de
Cláudio Guerra aos jornalistas Marcello Netto e Rogério Medeiros ainda me
conseguiu surpreender pela violência e frieza com que eram cometidos os
assassinatos dos opositores ao regime.
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